sexta-feira, 7 de maio de 2010

Canção do Alucinado!


Estou me sentindo tão escuro
Que até me lembra que a porta está trancada
E que o meu delírio faz barulho
E que a minha voz deve ser calada!

Me lembro que estar trancafiada
A minha preta na preta prisão,
Minha loucura é algo criminoso,
Grades de cela entre minhas mãos!

Estou aqui,
Punido por não ser a mão suada
Que faz a mesa de quem dá sentença
Mas cujas mãos não construiram nada...

Estou aqui,
A minha vida vira uma doença,
Aqui existe uma luta profunda,
É muito mais que excluir diferenças!

sábado, 8 de agosto de 2009

Que vontade de chorar...

Que vontade de fazer cocô na roupa,
De ficar sem tomar banho,
De cantar desafinado
De matar aulas e provas
De ficar desempregado
Reprovar, ser jubilado,
Ir pro SPC, Serasa,
Deixar carear os dentes,
Esquecer nome de gente
influente, e de parente,
De desacatar polícia,
Beber cachaça estragada,
Leite moça em camisinha,
Entrar na frente de carro,
Deitar no trilho do trem,
Escutar tecnobrega,
Ler José de Alencar,
Enfiar unha na carne,
Lamber a sola do pé,
Pisar em minha cabeça,
Xingar dentro da igreja,
Berrar que eu sou putinha,
Caçar briga com marmanjo,
Ralar a cara no asfalto,
Martelar o meu dedão,
Empenar meus LP's,
Martelar meus LP's,
Morder minha própria língua,
Passear na rua nu...

Acho que o que eu quero é rua...

Minha casa é na rua,
Minha casa é na rua...
Só me sinto em paz na luta,
Só me sinto em paz na rua...




Nietzsche escreveu certa vez que "só os pensamentos andados têm valor"...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

poshaikai da insônia!

Quase sempre é assim, nessas noites de insônia braba,
Tô eu na frente do espelho, aparando a minha barba...

domingo, 28 de junho de 2009

Sobre Dores e Delícias

Quando toda dor da vida é calada, anestesiada, escondida, você tenta suportar a dor intolerável, aprender o que se pode apreender dali. Ao invés de fugir do sofrimento, abrindo mão de tudo de bom que ele poderia trazer, opta por enfrentá-lo concentrada, atenta, tentando extrair dele com cada músculo de seu corpo o momento que o sucede. O momento de alegria, o momento de troca de sorrisos e de abraços, o momento de liberdades, de sentimentos livres, momento de o amor dizer que venceu. Talvez as forças que engendram leis tenham esquecido de te dizer que estamos em tempos de anular tudo o que dói. Tudo é satisfação e prazer, fácil, sedutora e encantadoramente. E eu admirando, com muita surpresa, você se concentrar na dor.

Não tolerar a dor: Vamos, é melhor parar, não vale a pena forçar a barra se seguir em frente e enfrentar só te faz mal. Ou pelo menos distraia o que fere com qualquer coisa prazerosa, pra maquiar e tornar suportável a dor.

E aí soa a resposta estranha: Não me distraia com nada que possa ser bom, nesse meu momento de dor. Estou me concentrando.

E eu só posso querer uma coisa, que é ser tua companhia, e estar de mãos dadas contigo quando você estiver enfrentando quimeráticos dragões, em pensamentos e atos, com essa ousadia de se concentrar no que te ataca, ao invés de fugir e só topar alívio. Segura em minha mão, tão forte quanto for a dor, porque você sabe melhor que eu que, depois de todas essas dificuldades, virão tempos bons para nós dois. E não estou falando de paraíso, estou falando de vida. De nossas vidas.

E você sabe tanto quanto eu que a vida dói. E que a vida é deliciosa.

sábado, 27 de junho de 2009

Sobre os dois blogs!

Essa coisa de Blog é uma loucura, tem esse negócio do fetiche da audiência... Eu confesso que tenho muitas expectativas de ser lido nesse blog aqui... O outro não, ele tem uma coisa mais programática, é uma das bandas de uma textura polifônica, escrevo lá independente (ou pouco dependentemente) do que lêem ou comentam... Já pensei até em deletar coisas lá e postar aqui (ou em postar nenhum) por algumas coisas que postei e acho que não se adequam mais... Desisti da idéia, decidi que o que acabou indo pra lá, lá ficaria (até que algo diferente fosse decidido, pelo menos)...

Mas aquele Blog, a terceira margem do rio, é um blog sem eu, apesar de eu de vez em quando falar sem mim lá... Mas ele é, desde o princípio, assumidamente sem autor... Já aqui eu, apesar de saber que não existo, forço minha existência fingida e enganada, numa constância de autor... Não é a tôa que eu chamei esse blog aqui de Blog do Zé! São duas personagens, e a personagem d'A Terceira Margem do Rio é uma invenção minha, duma mistura de Guattari/Deleuze com Ednardo/Itamar/SergioSampaio: O Devir-Cantador... Na época eu rateava e tateava mais os conceitos esquizoanalíticos, foi uma primeira aventura intelectual, um exercício de pensamento, mas hoje a coisa toma outro sentido, hoje eu tenho clareza que o Devir-cantador é algo parecido com a negação de um EU, mas ao contrário, porque é afirmativo: Devir-Cantador é a afirmação de uma hecceidade...

A idéia (tem um texto bonito lá que trata disso, é ligeiramente velhinho, mas amo ele) é a seguinte: O Compositor Popular é o anti-autor, é o pôr-se-em-obra de todo um grupo, de toda uma população, de todo um momento histórico, de todo um clima, de todo um tempo... Por mais que o artista ache que ele acredite, conscientemente, que ele é o inventor da obra de arte, da canção, enfim, na verdade há um inconsciente que fala nele, através dele... O inconsciente de um grupo, de uma data, de um instante, de um estado de espírito... Ele não é representante da população... Ele é a população, as fronteiras entre ele e tudo mais que existe (e não tô falando só de pessoas, tô falando de tudo mesmo) já não são mais tão nítidas assim...

E é engraçado que quando eu inventei a brincadeira do Devir-Cantador e depois, quando inventei o outro blog, eu não tinha essa compreensão de que a fronteira inexistente não era apenas entre o eu e outras pessoas, era entre eu e tudo mais... Eu ainda pessoalizava demais a quebra desse dualismo entre eu e resto das gentes (quer dizer, mantinha um dualismo maior, entre gente e resto das coisas), e foi só ao compreender o conceito de hecceidade, que é de Guattari e Deleuze, que eu decidi inventar esse blog aqui... E foi o mesmo período em que eu quase deletei algumas coisas lá...

Esse texto aqui, por exemplo, é típico do blog de lá, mas preferi escrevê-lo aqui... Não posso me obrigar também a justificar a existência dos dois, né... Há diferenças, e não me sinto obrigado a respeitá-las...

Mas ainda assim vou tentar defini-las... Esse Blog aqui é sobre poesia e conto, é literário... O de lá é sobre a música, seja no violão, seja nos sons de meu corpo (o que inclui minha alma), seja nos sons da vida, como corda tensionada (compreensão que eu inventei roubando de Nietzsche)... Talvez seja isso, o blog de lá é nietzscheano, o daqui é pra poeminhas de amor e contos eróticos...

Um dos blogs sempre está interferindo no outro, e sempre que eu for postar algo, me perguntarei antes: "em qual dos dois?". Por fim, isso de Blog é sério pra mim, mas não é! EU preferia os fanzines, e o Terceira Margem do Rio quer devir fanzine, ao invés de ser blog... Já esse blog aqui quer devir caderninho de poemas, ou diário de mocinha, até... enfim, são dois devires possíveis que remetem à minha adolescência, e só exatamente agora, depois de escrever a parte sobre fanzine que eu me dei conta disso... Talvez eu esteja mexendo com coisa séria demais, porque eu era bobinho na adolescência, mas já era gigante, e muita coisa de grandiosa em mim naquela época reverbeda até hoje... E agora me dou conta de que aqui estou eu de novo com o fanzine de hardcore e com o caderninho de poesias...

Ou com o fanzine de hardcore e com o diariozinho feminino... Enfim, tô mexendo com coisa séria!


sábado, 13 de junho de 2009

É com ódio que se faz poesia!

Eu estou em algum lugar.
Minha alma está nua
E os meus pés, no asfalto,
No meio da rua.

O ódio brilha em meus olhos,
E meu braço se estende.
Ombro diz "por ali",
Pra rasgar algum caminho,
Pra poesia seguir.

A cidade é imensa,
E eu estou em toda ela,
Caminhando ou parado,
Eu estou espalhado,
Por entre prédios e nos topos,
Nas avenidas e parques,
Na beira mar, nos esgotos,
Nas praças, nos namorados,
Nos hortos e nos desejos,
Nos monumentos, teatros,
Nos coletivos e nas moradas.

Meu ódio corre em minhas veias
E nas veias da cidade,
E a poesia se engendra
Em alta velocidade,
Desde o topo do penedo
Até cada pontezinha
Até a terceira ponte,
Em cada morro ou monte,
O ódio em meu gesto tosco...

Aponto co'a mão aberta,
Em direção a algum rumo.
Não sei aonde vai dar,
Mas sei que a poesia
Precisa correr nas ruas,
Nas rodas dos importados,
Nas portarias das festas,
Nas faixas de segurança
E nos atropelamentos.

É odiando que se ama,
E a poesia é profana,
Deus quer o que não se inventa.

O ódio é o mar do mundo,
Contra as pedras do que dura,
Esfarelando cultura,
Cultura é o que engessa.
E o ódio esfarela,
O ódio faz tudo novo.

A cultura não caminha.
Não vê cantos da cidade.
Não vê as luzes da noite
Nem os calores do dia.
Cultura é escritório,
É protocolo e carimbo.
Cultura é pai de família,
Família, lei e respeito.
Cultura é tudo de novo,
São rituais intocáveis,
Que calam a poesia.

Mas poesia é ódio,
Meu pé no asfalto da rua.
Meu gesto é antivanguarda,
Nem tem direção, sentido.
Meu gesto é ódio amorfo.
Aponta pra nenhum lugar,
E eu me espalho no mundo.
Meu gesto é desorientado,
E eu estou por todo lado.
Não nasci pra ter lugar.

Minha casa tem espinhos,
Nas cadeira, nos sofás.
Camas e móveis de espinho,
Paredes, tetos e portas!
Mal posso girar maçaneta
Antes de fugir.

Só tenho casa no mundo.
Só tenho conforto assim,
Minha posição confortável
É caminhando.

É ódio, amados, ódio!
Só com ódio se pode amar.

Rearranjo minhas vísceras,
Porque elas também caminham,
E é preciso caminhar...

Cada passo nessa estrada,
Nesse caminho de curvas erradas,
Me levará a perigos
Que eu pretendo afirmar!

Perigo é poesia,
E quem não quer poesia
Tá querendo se salvar.

E eu digo não
A toda salvação
Que não seja ódio e verso,
Que não seja poesia,
Que não seja a cidade
Completamente afogada em caos.

Nossa Senhora da Penha,
Cesar Hilal.
O trânsito para em mim.
Os carros param pra pensar,
Mas as almas, nos olhos, correm,
Viajam pra muito longe
Ou muito perto dali.

Poeta desesperado,
Poeta Praça do Papa,
Poeta Ayrton Senna,
Poeta Gruta da Onça,
Poeta Bento Ferreira,
Poeta Forte São João,
Poeta Ilha do Boi,
Poeta Aeroporto,
Poeta Praia do Canto,
Poeta por todo canto,
Poeta atropelado,
Miolos espedaçados.

Eu sou toda essa cidade,
E toda a cidade é eu,
E ódio é poesia,
Diversidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Algum...

Talvez faça algum sentido
(Ou sentido algum)
Viver tudo o que eu estou vivendo
Morrer como eu, desse modo horrendo,
Numa velocidade embriagadora,

Talvez faça algum sentido
Ter o mundo como encubadora.

Mas eu estou me desfazendo,
Me deteriorando, morrendo,
A cada dia, a cada momento,
A cada passo, veloz ou lento.

A vida caminha pra baixo!

---*---

E eu acho,
(AH! Eu acho!)
Acho que tá dando pra viver,
Que o gosto de velocidades novas
E o gostinho de trazer mil boas novas
Só me trará prazer,
E o que for de dor, supero,
E o que for lição, eu quero,
E no final das contas,
Eu, com minhas malas prontas,
QUero a vida a mil, e abaixo de zero!