sábado, 27 de junho de 2009

Sobre os dois blogs!

Essa coisa de Blog é uma loucura, tem esse negócio do fetiche da audiência... Eu confesso que tenho muitas expectativas de ser lido nesse blog aqui... O outro não, ele tem uma coisa mais programática, é uma das bandas de uma textura polifônica, escrevo lá independente (ou pouco dependentemente) do que lêem ou comentam... Já pensei até em deletar coisas lá e postar aqui (ou em postar nenhum) por algumas coisas que postei e acho que não se adequam mais... Desisti da idéia, decidi que o que acabou indo pra lá, lá ficaria (até que algo diferente fosse decidido, pelo menos)...

Mas aquele Blog, a terceira margem do rio, é um blog sem eu, apesar de eu de vez em quando falar sem mim lá... Mas ele é, desde o princípio, assumidamente sem autor... Já aqui eu, apesar de saber que não existo, forço minha existência fingida e enganada, numa constância de autor... Não é a tôa que eu chamei esse blog aqui de Blog do Zé! São duas personagens, e a personagem d'A Terceira Margem do Rio é uma invenção minha, duma mistura de Guattari/Deleuze com Ednardo/Itamar/SergioSampaio: O Devir-Cantador... Na época eu rateava e tateava mais os conceitos esquizoanalíticos, foi uma primeira aventura intelectual, um exercício de pensamento, mas hoje a coisa toma outro sentido, hoje eu tenho clareza que o Devir-cantador é algo parecido com a negação de um EU, mas ao contrário, porque é afirmativo: Devir-Cantador é a afirmação de uma hecceidade...

A idéia (tem um texto bonito lá que trata disso, é ligeiramente velhinho, mas amo ele) é a seguinte: O Compositor Popular é o anti-autor, é o pôr-se-em-obra de todo um grupo, de toda uma população, de todo um momento histórico, de todo um clima, de todo um tempo... Por mais que o artista ache que ele acredite, conscientemente, que ele é o inventor da obra de arte, da canção, enfim, na verdade há um inconsciente que fala nele, através dele... O inconsciente de um grupo, de uma data, de um instante, de um estado de espírito... Ele não é representante da população... Ele é a população, as fronteiras entre ele e tudo mais que existe (e não tô falando só de pessoas, tô falando de tudo mesmo) já não são mais tão nítidas assim...

E é engraçado que quando eu inventei a brincadeira do Devir-Cantador e depois, quando inventei o outro blog, eu não tinha essa compreensão de que a fronteira inexistente não era apenas entre o eu e outras pessoas, era entre eu e tudo mais... Eu ainda pessoalizava demais a quebra desse dualismo entre eu e resto das gentes (quer dizer, mantinha um dualismo maior, entre gente e resto das coisas), e foi só ao compreender o conceito de hecceidade, que é de Guattari e Deleuze, que eu decidi inventar esse blog aqui... E foi o mesmo período em que eu quase deletei algumas coisas lá...

Esse texto aqui, por exemplo, é típico do blog de lá, mas preferi escrevê-lo aqui... Não posso me obrigar também a justificar a existência dos dois, né... Há diferenças, e não me sinto obrigado a respeitá-las...

Mas ainda assim vou tentar defini-las... Esse Blog aqui é sobre poesia e conto, é literário... O de lá é sobre a música, seja no violão, seja nos sons de meu corpo (o que inclui minha alma), seja nos sons da vida, como corda tensionada (compreensão que eu inventei roubando de Nietzsche)... Talvez seja isso, o blog de lá é nietzscheano, o daqui é pra poeminhas de amor e contos eróticos...

Um dos blogs sempre está interferindo no outro, e sempre que eu for postar algo, me perguntarei antes: "em qual dos dois?". Por fim, isso de Blog é sério pra mim, mas não é! EU preferia os fanzines, e o Terceira Margem do Rio quer devir fanzine, ao invés de ser blog... Já esse blog aqui quer devir caderninho de poemas, ou diário de mocinha, até... enfim, são dois devires possíveis que remetem à minha adolescência, e só exatamente agora, depois de escrever a parte sobre fanzine que eu me dei conta disso... Talvez eu esteja mexendo com coisa séria demais, porque eu era bobinho na adolescência, mas já era gigante, e muita coisa de grandiosa em mim naquela época reverbeda até hoje... E agora me dou conta de que aqui estou eu de novo com o fanzine de hardcore e com o caderninho de poesias...

Ou com o fanzine de hardcore e com o diariozinho feminino... Enfim, tô mexendo com coisa séria!


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